Brunei e o reino do Sultão
É normal que a esta altura se perguntem que ideia terá sido a nossa de ir para o Brunei e o que haverá lá para ver ou fazer. Pois… Também nós fizemos essas mesmas perguntas e tendo em conta que o Brunei não é propriamente um destino turístico por eleição, a tarefa de encontrar informação que nos pudesse ajudar não foi nada fácil.
A decisão veio por proximidade, pois a nossa intenção de visitar o lado malaio da ilha do Bornéu, fez-nos pensar, porque não aproveitar e conhecer também este pequeno e rico sultanato. Reconhecemos que as expectativas eram bastante elevadas. Afinal, íamos ao segundo país mais rico do Sudeste Asiático (logo abaixo de Singapura), o quinto mais rico do mundo, e um dos mais conservadores no que toca à religião.
Foi, antes de mais, muito cansativo chegar até aqui… Apanhámos um voo em Lisboa às 11h de sábado e só chegámos ao Brunei Darussalam Domingo às 24h (hora local), 30 horas depois de termos saído de casa! De Kuala Lumpur até Bandar Seri Begawan voámos com a Royal Air Brunei e vínhamos muito curiosos com esta companhia aérea! Voo completamente cheio, únicos não asiáticos e únicos com uma mala cada um! Logo no aeroporto percebemos que os habitantes deste sultanato deverão ir à Malásia fazer compras tal era a quantidade de malas, embalagens e caixas que levavam para o check-in…
E se dúvidas houvesse acerca do conservadorismo em relação à religião neste país, nada melhor do que o que presenciámos logo no avião: estava tudo preparado para levantar voo quando, após as instruções de segurança, se inicia nos monitores uma oração, e todos os presentes (excepto nós) acompanharam a mesma. Já viajámos em muitas companhias aéreas mas nunca tínhamos assistido a nada semelhante! Em termos de serviço, irrepreensível, e a comida excelente. Sim, mesmo num voo tão curto, foi-nos servido um jantar e estava delicioso. Achamos mesmo que nunca tínhamos comido tão bem a bordo de um avião. Foi TOP!
Chegámos finalmente a Bandar Seri Begawan, capital do Brunei. Ainda no aeroporto temos a percepção de que estamos num país diferente dos demais desta região. Dois pormenores deliciosos: A Royal Air Brunei tem um check-in lounge para os clientes da Business Class aguardarem confortavelmente sentados em sofás enquanto a funcionária efectua o check-in. Segundo pormenor é a Mesquita lindíssima que existe no aeroporto e não apenas uma sala de orações como é hábito encontrar.
O Brunei Darussalam é um país riquíssimo e deve esta sua riqueza essencialmente ao petróleo e gás natural encontrado nas suas terras, e que com a sua abundância ajudou a conjugar o luxo com as tradições ancestrais deste povo. O país, governado há mais de 600 anos por uma família real que, segundo os próprios, descende directamente do profeta Maomé, tornou-se um protectorado britânico em 1888, e foi invadido pelos japoneses em plena segunda guerra mundial, mas recuperou a sua independência em 1984. Desde então, o crescimento económico do país disparou tornando-o num dos países mais ricos do mundo.
Só para terem uma ideia mais concreta do país aqui ficam alguns factos relevantes: Não existem impostos sobre o rendimento. A sáude e a educação são gratuitas, assim como a habitação. Quem não tiver uma casa, pode candidatar-se para receber uma. Quase metade dos habitantes tem um automóvel (1 carro para cada 2 pessoas) e o combustível custa cerca de 0,35€/litro. O islão é a religião oficial do Brunei e abrange mais de 2/3 da população. Dado o seu conservadorismo, o álcool é absolutamente proibido pelo que não existe praticamente vida nocturna nem animação, ou pelo menos da forma como a conhecemos. Bares, nem vê-los! É também um país extremamente seguro, de resto como a maior parte dos países do sudeste asiático.
Depois de uma noite de sono, e logo pela manhã, demos inicio á nossa visita por Bandar Seri Bangawan. Começámos por visitar o local mais afastado do centro e o que nos tinha suscitado bastante interesse: a mesquita Jame’Asr Hassanil Bolkiah.
Após deambularmos um pouco pela cidade em busca de um táxi, o que não foi nada fácil de encontrar, dado que existem pouquíssimos táxis na cidade (só existem 37 táxis), lá descobrimos que os mesmos costumam estar estacionados junto á estação de autocarros. Foi então daqui que partimos em direcção á mesquita, mas tivemos de combinar logo com o taxista ir-nos buscar para o retorno, caso contrário iriamos ter o mesmo problema novamente. Os táxis, além de serem extremamente baratos é, pelo que nos pareceu, o único meio de transporte público na cidade. Os autocarros (18 lugares) fazem viagens apenas para fora da cidade. Como dizia a Ana, quase toda a gente tem carro por isso não precisam de transportes…
Esta Mesquita, a maior e mais representativa do país, foi construída em 1994 em honra do 25º aniversário do reinado do Sultão. Tem uma arquitetura e um luxo extraordinários e que realmente impressionam qualquer um. As 29 cúpulas douradas são a sua característica mais marcante, e representam o actual sultão como o 29º governante da sua dinastia. Infelizmente o dia em que fomos era um dia feriado religioso e portanto não a pudemos visitar por dentro. Mas a sua grandiosidade, os belos jardins, a limpeza e organização fizeram com que, mesmo assim, a visita tivesse valido a pena.
Encontrámos aqui a nossa “companheira de viagem”. Uma chinesa que viajava sozinha, a Annie, estava com dificuldades em encontrar um táxi para ir para o centro da cidade e por isso convidámo-la a partilhar o táxi connosco. A partir desse momento, ela juntou-se a nós, fazendo o percurso pela cidade em conjunto. A Annie mora perto de Hong Kong, estudou em Liverpool e é professora de Inglês!
Seguimos depois para a Mesquita Omar Ali Saifuddien, o ex-libris da cidade. Esta mesquita, fica bem no centro, virada para a baía, e mostra bem o que o Brunei tem e representa nestes dias: mármores, candelabros e luxuosos tapetes importados de todo o mundo, assim como a sua magnifica cúpula banhada a ouro. É considerada como uma das mesquitas mais espectaculares da região da Ásia Pacífica. Aqui foi-nos permitido entrar mas não fotografar. Tal como em todos os outros locais, a entrada é gratuita e apenas nos é pedido para colocarmos o nosso nome, país de origem e assinatura num livro de registos.
Existem vários exemplos na Ásia de casas construídas em cima da água. Kampong Ayer é mais um dos exemplos e o único neste país. É culturalmente muito importante para os habitantes do Brunei, pois preserva as suas origens e tradições. Totalmente construída em madeira, existe há mais de 1000 anos e começou por ser uma vila de pescadores. Chegou a ter cerca de 30.000 habitantes, sendo na altura a maior “water village” do mundo, mas devido a um grande incêndio ocorrido recentemente, este número reduziu bastante.
Apanhámos o barco junto ao “waterfront market”, que neste dia estava encerrado, e a viagem até Kampong Ayer custou-nos apenas 1 Dólar Bruneano (0,75€). Há variadíssimos barcos a fazer este transporte servindo de transporte público para quem lá vive. Caminhámos, deambulando pela mesma, observando o dia-a-dia dos seus habitantes. Não nos fascinou, pois quase não víamos ninguém e isso não nos permitiu grande interacção com a população local, o que seria o seu maior ponto de interesse.
Curioso é o facto de haver casas bastante antigas mas haver igualmente casas de construção mais moderna sobre a água. Pelo que soubemos, a construção destas novas casas foi decretada pelo Sultão, como forma de melhorar o nível de vida dos habitantes e seriam entregues a quem precisasse de casa e não quisesse viver em terra. Os barqueiros tentaram vender-nos um tour à volta da vila para ver os macacos mas honestamente não era algo que fizéssemos questão.
Após o almoço, passámos ainda no open air market, o mercado da cidade. De manhã cedo temos a certeza de que teria sido mais proveitoso mas deu para ver com é limpo e organizado, e com uma enorme diversidade de produtos, ou não fosse este um país tropical.
Seguimos para a visita que mais curiosidade nos gerava: o Palácio Real. Este palácio é a residência oficial do Sultão Do Brunei. É o maior palácio residencial do mundo e a maior residência de qualquer espécie. Com muita pena nossa só pudemos ver os imponentes portões que o segurança, simpaticamente, nos deixou fotografar. Ficámos a saber que no final do ramadão, o Sultão abre os portões dos seus magníficos jardins e permite à população deles usufruir, fazendo um piquenique ou somente passeando, poder ver família real mais de perto, e até quem sabe poder cumprimentar o próprio Sultão!
No caminho de regresso para o hotel tivemos ainda oportunidade de visitar o Museu Royal Regalia que retrata a vida da família Real, incluíndo uma mostra significativa de ofertas de dignatários de outros países. Uma vez mais, é gratuito, bastando apenas indicar o nome, país, e-mail e assinar.
Nota-se que o povo tem bastante orgulho na sua família real e do que nos foi possível perceber não deverão ser monarcas que não olhem pelo seu povo. Vive-se bastante bem neste Sultanato e, à excepção de muito poucas pessoas, o povo tem poder de compra, é consumista e terá com certeza uma vida agradável.
Em jeito de conclusão gostámos bastante, achamos que quem venha a Sabah ou Sarawak (Malásia) pode aproveitar e fazer uma visita, mesmo que curta, como foi o nosso caso.
Nota: Viagem realizada em Abril de 2017
6 Comments
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Umberto guimaraes
Gostei muito da matéria, parabéns
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Tome
Mandem lá os políticos portugueses para aprenderem como governar , aqui só aprendem a melhor roubar
Paulo
Olá. Obrigado pelo excelente blog. Com passaporte português foi necessário visto para entrada no país? Obrigado,