Monsanto Aldeia histórica

Aldeias Históricas: Monsanto, uma aldeia entre pedras e penedos

Empoleirada no alto de uma elevação escarpada que rasga a paisagem da Beira Baixa, Monsanto é uma das 12 aldeias da rede de “Aldeias Históricas de Portugal“, e cuja singularidade não passa despercebida nem mesmo aos mais distraídos. 

Honrada em 1938 com o prémio de “aldeia mais portuguesa de Portugal” no célebre concurso do Estado Novo, recebeu o Galo de Prata das mãos dos então Presidente da República e Presidente do Conselho de Ministros, Marechal Carmona e Prof. Dr. Oliveira Salazar. O Galo, cuja réplica se exibe do alto da Torre de Lucano desde há mais de 80 anos, é ainda hoje o símbolo da aldeia. Mas o certo é que Monsanto não necessitaria deste prémio para ser considerada uma das mais belas aldeias da Europa e para seduzir todos aqueles que a visitam.

A sua aura de aldeia medieval, as casas que se fundem e se confundem com os penedos graníticos que a envolvem, as lendas e as tradições, a extensa planície raiana ao seu redor, todos são motivos mais que válidos para se deixar render ao encanto desta aldeia.

Por isso, neste nosso roteiro pela aldeias raianas da Beira Baixa, inserido no projecto #euficoemportugal da ABVP, Monsanto jamais poderia ficar de fora. Já a tínhamos visitado antes, mas voltar é sempre uma opção.

Começamos pela sua localização numa das mais impressionantes formações geológicas do país: um inselberg. O nome é estranho mas a formação é simples, pois não é mais que o resultado da resistência à erosão dos blocos graníticos duros aqui existentes, mais do que o xisto que os rodeia. 

A História de Monsanto

É uma, longa história, a deste monte que se diz santo. Lá do alto dos seus quase 800m, sempre fascinou aqueles que por aqui passaram e muitos foram os vestígios aqui deixados pelos vários povos ao longo dos tempos, desde a época do Paleolítico. Romanos e Visigodos exerceram aqui a sua influência, muito por conta da importância da vizinha Idanha-a-Velha na época, mas é na Idade Média que Monsanto se desenvolve mais.

Conquistada aos Mouros por D. Afonso Henriques, Monsanto é doada aos Templários que aqui ergueram o castelo. É praticamente impossível não o ver, assim como o é de lá chegar sem ser visto, propósito esse o da sua edificação pelos nossos antepassados com a missão de defender as nossas fronteiras, não só dos Mouros, entretanto expulsos, mas também dos nossos vizinhos castelhanos. Deste seu passado, foram muitas as lendas e histórias ligadas às invasões e batalhas aqui travadas. Exemplo disso é a lenda da bezerra lançada do Castelo para ludibriar as tropas sitiadas, fazendo-as pensar que ainda haveria muita comida e por isso a rendição certamente tardaria, ou a das marafonas que dançavam alegremente fazendo-se passar por mulheres indiferentes ao cerco, desmoralizando assim as tropas e fazendo-as desistir.

Seguiram-se mais tarde inúmeras tentativas de aqui fixar população, que teimava em preferir zonas menos íngremes, e quem já foi a Monsanto percebe bem porquê. Mas a resiliência foi mais forte e nem o difícil e íngreme terreno impediram as gentes de Monsanto de aqui construírem as suas casas que se moldam e se confundem com os gigantes penedos, e que são claramente uma das atrações da aldeia.

Mas há muito, mas muito mais para ver em Monsanto, por isso há que dar início à nossa visita.

O que visitar em Monsanto

Miradouro da Praça dos Canhões

Um miradouro excelente para apreciar a beleza da paisagem raiana e enquadrar a aldeia numa bela foto. Este é sem dúvida o melhor ponto de partida para conhecer Monsanto, até porque é o último ponto até onde pode circular de carro. Por isso há que o deixar e seguir a pé para a explorar. A partir daqui é sempre a subir, mas vale a pena todo o esforço.

Igreja Matriz ou Igreja de São Salvador

Assim que começamos a subir deparamo-nos com a Igreja Matriz dedicada ao padroeiro da aldeia, São Salvador. Aqui podemos destacar a sua fachada ao estilo Românico que inclui o pórtico e a rosácea e no seu interior o altar em talha. Ao seu redor, muito mais património digno de contemplação, mas há que continuar a subir.

Pelourinho e Igreja da Misericórdia

Chegamos ao Largo da Misericórdia onde encontramos o Pelourinho e logo em frente a Igreja da Misericórdia, datada do século XVI e de estilo renascentista. De todas as vezes que visitámos a aldeia, nunca conseguimos ver o seu interior pois estava sempre encerrada.

Torre de Lucano ou Torre do Relógio

Seguimos pela mesma rua até avistarmos a Torre de Lucano, aquela que ostenta orgulhosamente o famoso Galo de Prata, símbolo do merecido prémio de “aldeia mais portuguesa de Portugal” e que é provavelmente o edifício mais representativo da aldeia.

Miradouro

Este miradouro, junto ao Jardim comunitário da aldeia, é sem dúvida ponto de paragem obrigatória. Muitas das mais famosas fotografias da aldeia são tiradas a partir daqui, por isso, há que aproveitar para descansar um pouco, que a subida ainda só vai a meio, observar a espectacular paisagem, dar uso à câmera ou telemóvel e depois partilhar mais um pouco desta aldeia ímpar.

Castelo de Monsanto

Este é sem dúvida o ponto alto de qualquer visita à aldeia, e será preciso continuar a subir pela rua do Castelo para lá chegar. É claramente o melhor de todos os miradouros da região. Lá do alto avistamos o casario da aldeia, escondido na encosta, e vastidão das terras de Idanha, com a Serra da Estrela ao longe no horizonte, a barragem de Idanha a sul e Penha Garcia a este.

No entanto, desta vez resolvemos seguir um percurso alternativo percorrendo o trilho pedestre da Rota dos Barrocais (PR5-IDN), algo que nunca tínhamos feito anteriormente. Só temos a dizer que vale todas as gotas de suor que correram pelos nossos rostos o que fez dele o melhor desta nossa visita.

Rota dos Barrocais

Muitos são os segredos que esconde este trilho e só através dele é possível conhecer alguns dos locais mais fascinantes que Monsanto nos pode proporcionar. Mas, apesar de ser uma rota que qualquer um pode fazer, pois não tem um grau de dificuldade demasiado elevado, convém começar de manhã bem cedo e evitar os meses de Julho e Agosto, quando faz demasiado calor na região. Nós fizemos no inicio de Junho, começamos por volta das 8h da manhã e no final já estava imenso calor.

Penedos Juntos

É incrível a sensação liliputiana que sentimos ao passar por debaixo dos enormes penedos graníticos que ali se uniram para sempre ao despenderem de outro maior onde antes pertenciam. Ao início podemos ter algum receio, mas há que atravessar sem medos.

Capela de São João

Muito pouco se sabe sobre esta capela e hoje em dia resta apenas um arco, mas a envolvência medieval que dá ao local, transforma-a num magnífico miradouro sobre a paisagem beirã. Só por isso já vale a pena ficar ali uns minutos a admirar a vastidão do horizonte, mas é sempre bom fazer também fazer uma pausa para recuperar o fôlego e prosseguir a caminhada.

Capela de São Miguel

Do lado exterior das muralhas do Castelo, existe uma pequena capela isolada, a Capela de São Miguel e cuja construção data de finais do século XII. Terá sido aqui, ao seu redor, que terá nascido o primeiro povoado medieval de Monsanto, a que chamam o povoado de São Miguel.

Laje das Treze Tigelas

Junto à Capela de São Miguel, encontramos uma rocha com estranhas cavidades circulares, muitas vezes associadas a um santuário ancestral. Da sua enigmática  origem e do imaginário popular nasce mais uma lenda. Esta conta-nos que existia em Monsanto uma fidalga caridosa que subia ao povoado de São Miguel para dar a sopa aos pobres. Quem não gostava nada era o seu marido que lhe destruiu todas as tigelas.  Mas o milagre aconteceu e foi descoberta uma rocha com umas estranhas covas que tinham o tamanho exacto para esse fim, permitindo assim que a fidalga pudesse continuar a servir as sopas aos mais necessitados.

Caso queiram percorrer o trilho pedestre da Rota dos Barrocais, como nós fizemos, vamos deixar aqui toda a informação necessária.

De regresso à aldeia, e para findar o passeio, nada melhor que uma bebida fresca ou um petisco num dos cafés da aldeia. A nossa escolha vai para a esplanada do Taverna Lusitana. que nos permite relaxar ao mesmo tempo que apreciamos a vista incrível da paisagem que nos rodeia. Mas é quando o dia finda e a paisagem se pinta de cor de fogo, que este momento se torna ainda mais especial. Depois, quando a noite cai, os turistas vão embora e o silêncio perdura na aldeia. As luzes amareladas dão cor às ruas agora vazias, transformando-a num lugar completamente distinto daquele que foi durante o dia.

O entardecer aqui é maravilhoso, mas o amanhecer é o culminar de toda uma experiência. Pernoitar na aldeia oferece-nos essa possibilidade, tornando-a numa vivência muito mais enriquecedora. Nós ficámos alojados na Casa do Castello, mas as Casas da Villa são outra excelente opção que  recomendamos, por isso não hesitem, nem um minuto, quando tiverem de escolher onde ficar durante uma visita à Beira Baixa. 

Monsanto nunca perdeu a mística medieval e, apesar do turismo, ainda se sente autenticidade. Essa é, sem dúvida, a característica que mais encanta aqueles que a visitam. Vaguear pelas suas ruelas íngremes, por entre casas de pedra e penedos gigantes leva-nos a mergulhar na sua história e na história das suas gentes. 

Poderíamos continuar aqui a enumerar muito mais motivos para colocar Monsanto no seu roteiro de visita, mas preferimos deixar um pouco para descobrirem por vossa conta. E acreditem que haverá, certamente, ainda muito por descobrir. Não pensem, no entanto, que um passeio pela Beira Baixa se finda em Monsanto. Idanha-a-Velha, Penha Garcia ou Salvaterra do Extremo são também nomes a ter em conta e que devem ser esquecidos.

“Nunca se sabe em Monsanto (que as águias roçam com a asa)

se a casa nasce da rocha, se a rocha nasce da casa”

Cardoso Marta


Viagem realizada em Junho 2020

Este post pode conter links afiliados

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Follow us