La Valletta, cidade dos Cavaleiros

A República de Malta é um país muito pequeno, o quinto mais pequeno da Europa, e é constituído por 3 ilhas, igualmente pequenas, cuja população total não chega sequer aos 500 mil habitantes. Como pequeno que é não poderia ter grandes cidades, e por isso é difícil perceber quando saímos de uma cidade e estamos a entrar noutra, tal é a concentração populacional das mesmas, principalmente ao redor da sua capital, La Valletta.

Para estes 5 dias em Malta escolhemos ficar alojados em Sliema, cidade localizada de frente a Valletta o que nos permitiu usufruir, todos os dias, de uma vista privilegiada para a capital.

A cidade de Valetta situa-se num porto natural, no centro da baía, de frente para o mar mediterrâneo, controlando todo o acesso à região mais importante da ilha. Foi elevada a património mundial pela UNESCO desde 1980.

Malta tem uma história riquíssima! Não apenas pelo posicionamento estratégico que tem no Mediterrâneo, e que foi sempre invejada e até mesmo governada por muitos povos (Fenícios, Gregos, Cartagineses, Romanos, Bizantinos e Árabes), mas por ter sido sede da Ordem de Malta (originalmente Ordem Hospitalária dos Cavaleiros de São João) no período entre 1530 e 1798. Pensa-se que terá sido a primeira cidade devidamente planeada e delineada da Europa. Foi Jean Parisot de la Valette (Grão-Mestre da Ordem de São João) o grande mentor dessa obra, que no final recebeu o nome de Valletta em sua homenagem. E foi assim que começou a história, não só de Valletta, mas também de Malta, que cresceu a partir daqui.

Além disso, este é um país católico e extremamente religioso, pelo que encontramos igrejas por todo o lado. Dizem que tem exactamente 365 igrejas, uma para cada dia do ano, o que diz tudo, face à dimensão do país. E, não é tudo! Incrivelmente, esta cidade tem também uma alta concentração de monumentos históricos (320 monumentos em 55 ha), tendo-se mantido praticamente inalterada desde que os Cavaleiros deixaram o país.

Por tudo isto e muito mais, dedicámos um dia inteiro só para explorar Valletta e as Três Cidades (Vittoriosa, Senglea e Cospicua).

La Valetta (O melhor de Malta)

Logo pela manhã apanhámos o ferry de Sliema para Valletta. O ferry sai de 30 em 30 minutos durante todo o dia e custa 2,8€/pessoa (ida e volta) demorando apenas 10 minutos a chegar à outra margem. Só pelo percurso em si já vale a pena atravessar de um lado ao outro. Podemos observar o forte Manoel, na ilhota com o mesmo nome que fica entre as duas margens, e a aproximação a Valletta é simplesmente magnífica.

É verdade que o arquipélago, em termos paisagísticos, não é propriamente dos locais mais bonitos do mundo, essencialmente por falta de vegetação e por ser muito seco e árido. Ao longe, as suas construções, de clara influência do Norte de África, parecem todas iguais e da mesma cor, a da pedra existente na ilha.

Mas Valletta é diferente, e deixa qualquer um encantado! Aqui, praticamente todos os edifícios são complementados com varandas ornamentadas e coloridas, o que dá à cidade um charme e romantismo especiais. Ninguém sabe ao certo qual a origem desta arquitectura tão particular, mas consta que a tendência para estas varandas de madeira, fechadas e coloridas, começou em Valletta, por volta do final do século XVII, quando as influências barrocas da Europa continental chegaram até Malta. Ora, sendo este o elemento mais significativo na fachada do edifício, rapidamente passou a simbolizar a posição social do seu proprietário. Mais tarde começaram também a aparecer noutros locais mais modestos e hoje podemos encontrá-las por todo o lado, mas a sua maior concentração é mesmo em Valetta.

Teatro Manoel

Começámos o nosso roteiro pelo Teatro Manoel, o mais importante teatro em Malta. Apesar de pequeno (623 lugares) é considerado o Teatro Nacional de Malta. Este Teatro, construído e financiado pelo português António Manoel de Vilhena em 1731, que era, na altura, Grão-Mestre da Ordem dos Cavaleiros de Malta, teve como objectivo “manter os jovens cavaleiros da Ordem de São João longe do mal, e também proporcionar ao público em geral, um entretenimento honesto”.

Catedral de São Paulo

Perto do Teatro encontramos a Catedral Anglicana de São Paulo. Adorámos esta pequena Igreja, construída entre 1839 e 1844 por ordem da Princesa Adelaide por ter considerado, numa visita a Malta, que não havia na cidade nenhum templo digno para o culto anglicano. Nessa altura Malta era governada pelos Britânicos que tinham neste ponto estratégico do Mediterrâneo um importante porto e centro empresarial. A Catedral tem uma arquitectura neo-clássica, e embora simples, é muito bonita e com alguns pormenores muito interessantes como é o caso dos brasões na sua lateral, a que achámos muita graça.

Forte Saint Elmo

Seguimos depois junto ao mar até ao Fort Saint Elmo, um dos pontos mais importantes da história de Malta. Este forte situa-se no extremo da península de Valletta e era, inicialmente, apenas uma torre de controlo dos portos.

Em 1530, Malta foi doada aos “Cavaleiros de São João”, após terem sido expulsos, pelos turcos, da ilha de Rodes. Quando chegaram, trataram imediatamente de reforçar a torre, mas não foi suficiente, já que não impediu que o corsário turco, Dragut, penetrasse no porto de Marsamxett em 1551 e saqueasse a ilha.

Foi então que construíram o Forte de Santo Elmo, um forte em forma de estrela com baluartes triangulares. Graças a esta construção, em 1565, o forte conseguiu resistir 28 dias ao ataque dos turcos, que, no entanto, o bombardearam a partir do topo da colina de Sciberras. Mas, com isso, os malteses tiveram tempo suficiente para consolidar a defesa dos outros fortes da ilha e permitindo que chegassem reforços vindos de Espanha. Os turcos foram definitivamente derrotados e nunca mais atacaram Malta.

Hoje em dia, o forte, abriga o Museu da Guerra dedicado às duas guerras mundiais e ao período da ocupação francesa. Deixámos a sua visita para mais tarde, e depois acabámos por não o visitar, mas teria valido a pena.

Palácio do Grão-Mestre

Seguimos depois para o interior da cidade. Chegando à praça de St Georges encontramos o Palácio do Grão-Mestre, construído entre os séculos XVI e XVII para servir como palácio dos sucessivos Grão-Mestres da Ordem de São João.

Ao longo dos tempos, foram várias as modificações que o Palácio sofreu conforme o gosto dos seus ocupantes. Mas foi um português, o Grão-Mestre Manuel Pinto da Fonseca, que, na década de 1740, fez grandes alterações concedendo-lhe a sua actual configuração. Essas renovações incluíram o embelezamento da fachada, a abertura de uma segunda entrada principal e a construção de uma torre do relógio em um dos pátios. Mais tarde, durante a ocupação britânica, tornou-se residência oficial do Governador e após a independência de Malta em 1964, passou a ser sede do Governador-Geral.

Mas o Palácio não é apenas uma residência oficial, é também o maior palácio da cidade e contém no seu interior, além de belas salas e corredores adornados com frescos, uma enorme colecção de obras de arte e outros items de grande valor histórico.

Apesar de não termos visitado, por estar encerrado (nem sempre é possível a visita), sabemos, por tudo o que vimos e lemos, que valerá muito a pena entrar, pois será um autêntico regresso ao passado.

Co-Catedral de São João

Passeamos depois pelas ruas, perdemo-nos pelas quelhas da velha cidade de Valletta e ficámos encantados, pois em todas elas encontramos um motivo de interesse, um pormenor que vale a pena fotografar e apreciar. Esta cidade é um tesouro, um autêntico museu a céu aberto. E para quem gosta de história, é absolutamente imperdível.

Chegámos assim à Co-Catedral de São João. Nenhuma visita à capital de Malta ficará completa sem conhecer este local. Há todo um imaginário associado a esta Catedral. Talvez não saibam, mas, a Ordem de Malta, que hoje ainda existe como organização humanitária, gerindo hospitais e centros de reabilitação em todo o mundo, inclusive em Portugal, foi fundada no Século XI na Palestina. A partir de 1530 estabeleceu-se em Malta, dando o seu nome ao país, e onde ficou até 1798. Muitos dos Cavaleiros que partiram nas cruzadas foram abençoados aqui, nesta Catedral. No seu interior, existem oito capelas dedicadas às línguas (ou origens) dos Cavaleiros da Ordem, sendo uma delas dedicada a Castela, Leão e Portugal. Inclusive, Manuel Pinto de Fonseca e António Manoel de Vilhena, os dois portugueses Grão-Mestres dos Cavaleiros de São João, estão aqui sepultados.

A Catedral é de deixar qualquer um boquiaberto perante a sua grandiosidade e beleza. O seu exterior não faz, de todo, jus ao que nos espera lá dentro. Assim que entramos, os nossos olhos perdem-se pelas pinturas tridimensionais dos seus tectos, pelos dourados ofuscantes das suas paredes e colunas e pelos inúmeros túmulos de mármore que cobrem todo o chão da Catedral, já para não falar da obra-prima de Carvaggio, ”A Decapitação de S. João Baptista”. Esta é provavelmente uma das Catedrais mais bonitas que conhecemos até hoje, e acreditem que já conhecemos muitas, até mesmo em Itália ou Espanha, e esta rivaliza muito bem com qualquer uma.

Auberge de Castille

Antes de continuarmos o nosso percurso, e já a caminho da próxima paragem, um edifício chamou-nos a atenção e não resistimos a parar para o observar e saber um pouco mais sobre ele. Ficámos então a saber que é um Palácio, actualmente a residência oficial do Primeiro Ministro de Malta, e cujo nome original é “Auberge de Castille”. Além de ser uma das melhores obras arquitectónicas de malta e de ter uma localização soberba, este tem duas curiosidades muito interessantes: a primeira é que a sua construção foi concluída por um português. Foi começada a construir em 1570 para ser a casa dos Cavaleiros de São João originários de Castela, Leão e Portugal, e foi concluída sob o magistrado de Manuel Pinto da Fonseca; a segunda, é que podemos observar no topo do edifício, o brasão de armas do reino de Portugal ao lado do de Leão e Castela, sob a bandeira nacional de Malta. Já vos dissemos que adoramos ver símbolos da presença do nosso país espalhado pelo mundo inteiro, não já?

As três cidades (Vittoriosa, Senglea e Cospicua)

Logo ali ao lado do Palácio, descemos o elevador que nos leva até ao porto de onde sai o ferry para Vittoriosa. Tínhamos decidido que o resto da tarde seria para explorar o lado de lá. Se não tivéssemos tempo para tudo, pelo menos Vittoriosa não iríamos perder. A viagem de ferry em si, já é um passeio imperdível, pelo que aconselhamos a que, se não quiserem conhecer em pormenor nenhuma das 3 cidades, façam pelo menos a viagem de ferry ou qualquer outro passeio de barco que vá até lá. Há muitas ofertas na cidade mas também podem reservar aqui com antecedência. Garantimos que valerá a pena, principalmente ao final da tarde.

No entanto, foi estranho chegar a Vittoriosa e ver as ruas praticamente desertas, quando logo ali ao lado, em Valletta, os turistas tropeçam uns nos outros. Deambulámos um pouco pelas ruas sem nenhum destino em particular. Sentimos que ali era um lugar mais autêntico, que era local de residência dos habitantes locais e não para turistas. Gostámos tanto que acabámos por voltar outro dia para explorar melhor e acabámos por passar ali a tarde, numa esplanada de uma pequena praça, entre conversas de vizinhos e amigos.

Jardins Upper Barrakka

Regressámos de ferry a Valletta. Mais uma vez, a pequena viagem valeu a pena, desta vez com as três cidades iluminadas de forma especial pela luz do entardecer.

Subimos o elevador e terminámos o dia nos jardins suspensos da Barrakka a fotografar e admirar o horizonte. E não há melhor local em Malta para o fazer, pois apreciar o pôr-do-sol a partir daqui é verdadeiramente imperdível!

Valletta tem encanto e um charme especial e único. No final do dia, os cruzeiros abandonam a cidade deixando-a mais vazia, mas também mais agradável de sentir.


Viagem realizada em Junho de 2019

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