Ilha de Gozo, o lado tradicional de Malta

Quando pensámos em visitar Malta decidimos logo que tínhamos de dedicar pelo menos dois dias a Gozo e Comino para poder conhecer todo o país, e digamos que não é algo muito difícil, tendo em conta a dimensão de cada ilha.

Tínhamos a ideia de que Gozo seria o local ideal para ter uns dias mais relaxados, talvez por sempre termos ouvimos falar que se queríamos boas praias em Malta, teria que ser na ilha de Gozo e daí esta curiosidade para verificar se tal correspondia à verdade. Mesmo após muitas pesquisas e não tendo encontrado informação que correspondesse a tal, queríamos descobrir por nós mesmo.

Assim sendo planeámos ficar as duas primeiras noites em Gozo, já que o nosso voo estaria previsto chegar às 19:00h. Chegámos com um atraso de 1 hora, mas não queríamos perder mais tempo (ainda queríamos ir jantar a Gozo), por isso seguimos directos para o porto de Cirkewwa, onde apanharíamos o ferry.

Do aeroporto até aqui demoramos cerca de 40 minutos de carro. A distância é curta, mas o trânsito e as estradas lentas, fazem com que o percurso seja demorado, tão demorado que perdemos o ferry das 21h e tivemos de esperar 45 minutos pelo próximo (lá se foi o jantar!) Estava tudo fechado, incluindo as bilheteiras, e com a informação de que o pagamento seria efectuado apenas no regresso. Por isso, é ir para a fila e embarcar directo. Uma vez no ferry, a viagem demora cerca de 20 minutos.

O hotel que escolhemos para ficar alojados em Gozo, o Cesca Boutique Hotel, situa-se na baía de Xlendi, a apenas 5 minutos do centro de Victoria, a capital da ilha. É um hotel de charme todo em pedra, muito romântico e com uma vista sobre uma falésia que abraça um pequeno ribeiro, o qual apenas conseguimos ouvir. O hotel é muito bom e tem uma excelente relação qualidade-preço. Recomendamos vivamente.

O nosso roteiro em Gozo

Gozo é uma ilha pequena que, se estiver de carro, dá perfeitamente para se conhecer num dia. O mesmo já não diríamos, se viajar de transportes públicos e, nesse caso, um dia apenas lhe permitirá conhecer alguns dos pontos principais. De um modo geral, a ilha tem muito pouca vegetação, a maioria desta à base de arbustos e plantas rasteiras, e não conseguimos deixar de associar a sua arquitetura a qualquer cidade do norte de África. Casas muito iguais e quadradas, de cor amarelada, idêntica à pedra calcária existente na ilha, com terraços no topo, mas com varandas e portas ao estilo britânico, por vezes de cores diferentes. Algo que nos agradou em termos paisagísticos, foi ver, ao longe, os aglomerados habitacionais todos iguais, mas sempre circundando igrejas imponentes e grandiosas a que chamam “rotundas” (por terem grandes abóbadas redondas).

Cidadela

Iniciámos o nosso dia em Victoria e o primeiro local que visitámos foi a “Cittadella”, também chamada de “Castello”, a zona muralhada da cidade. Localizada no alto de uma colina, é provavelmente o local mais emblemático de Gozo, já que domina completamente a paisagem.

Entrar na Cidadela é como entrar numa história com mais de 5000 anos. Habitada desde o período de neolítico, foi pela primeira vez fortificada já na idade do bronze, por volta de 1500 A.C.. Dada a sua localização estratégica e central, tornou-se centro administrativo e foi ainda mais desenvolvida pelos fenícios e posteriormente pelos romanos que a transformaram em Acrópole. Foi convertida em castelo durante o período medieval, e quando os Cavaleiros de São João chegaram, esta servia essencialmente como refúgio para a sua população, em caso de ataques de piratas bárbaros e sarracenos. Mesmo assim, e dado que as suas muralhas já eram bastante antigas, a cidade foi cercada, tomada e saqueada pelos Otomanos em 1551. Depois da sua reconquista, as muralhas foram reforçadas e a cidadela transformou-se num posto puramente militar, assim se mantendo até 1868, altura em que os britânicos a libertaram desse estatuto.

Subir à Cidadela é, por isso, ponto obrigatório, e mesmo sendo um pouco cansativa, garantimos que irá valer a pena, tanto pela sua história, como pela magnífica vista que conseguimos ter a partir de lá. De destacar, no interior das suas muralhas, a Catedral de Gozo, o Museu da Catedral, o Tribunal de Justiça, o Museu de Arqueologia de Gozo, o Museu do Folclore, o Museu de História Natural e as antigas prisões.

Victoria

A cidade cresceu e no exterior das muralhas cresceu “Ir-Rabat”. Na verdade, Rabat significa subúrbio em árabe, o que significa que esta seria o subúrbio da cidadela. O nome Victoria foi-lhe atribuído somente em 1887 aquando das celebrações do Jubileu de Ouro da Rainha Britânica, altura em que foi também elevada ao estatuto de cidade. Victoria engloba a Cidadela e a antiga Rabat, e tem hoje cerca de 7000 habitantes, sendo o maior centro populacional de Gozo.

No centro da cidade velha situa-se a Basílica de São Jorge, rodeada por um labirinto de ruas estreitas e becos antigos, por onde vale a pena passear. Aqui encontramos pequenas lojas com iguarias locais, e um povo afável, de ritmo lento, nos seus afazeres diários. Aqui sente-se o lado mais tradicional e não tanto o lado turístico da cidade. Logo ali ao lado, a Praça da Independência, que todas as manhãs se transforma num mercado ao ar livre, com as esplanadas cheias de vida e um monumento dedicado aos que a perderam na II Guerra Mundial.

A cerca de 2 km de Victoria, fica a pequena vila de Xewkija, dominada pela enorme cúpula da Igreja de São João Baptista, também conhecida como Xewkija Rotunda. Com 75 m de altura e 27m de diâmetro, esta é a terceira maior cúpula (não sustentada) do mundo e dela é possível ter uma perspectiva de 360º da ilha. A paisagem não é propriamente bonita, mas vale a pena subir, já que custa apenas 3€ e inclui também uma visita ao seu pequeno museu de arte sacra.

Podem não ter reparado mas esta é a cúpula que se vê ao longe nas fotos tiradas a partir da cidadela, e só por aí já devem conseguir imaginar o tamanho, e o que representa para uma vila tão pequena. Ela é até visível de quase toda a extensão da ilha.

Penhascos de Ta’Cenc

Um pouco mais a sul e já junto à costa, perto da vila de Sannat, fica umas das vistas mais espectaculares e panorâmicas de Gozo e aquela que mais nos impressionou, os “Ta’Cenc Cliffs”. É uma região de penhascos ingremes e escarpados com cerca de 140 m de altura que dominam a paisagem sobre o mar. Esta é uma área protegida pela sua importância tanto geológica como ecológica, já que alberga muitas espécies de flora endémica e fauna, principalmente aves, únicas na ilha.

Para lá chegar, é necessário fazer um caminho pedestre desde a vila até ao miradouro, mas vai valer a pena, pois a vista é tão soberba que é possível ver também as duas outras ilhas, Comino e Malta. Se estiver com disposição e tempo poderá caminhar pelos penhascos e fazer por lá uns passeios extra, pois existem alguns trilhos para explorar.

Templos de Ggantija

Malta é um país cheio de história, história essa que remonta à época do Neolítico. Os Templos de Ggantija são um conjunto de estruturas megalíticas que se estimam ter cerca de 5800 anos, sendo umas das mais antigas estruturas religiosas humanas do mundo. Segundo os arqueólogos, os templos de Ggantija terão sido dedicados à Grande Mãe Terra, uma deusa da fertilidade, e provavelmente incluiriam também um altar cerimonial, tendo em conta os artefactos e estátuas encontradas no local. No centro interpretativo, é possível ver várias imagens aéreas do local e com essa perspectiva ficamos com uma melhor noção do complexo.

O seu nome, Ggantija, tem origem na palavra Ggant, que significa gigante em maltês, e segundo uma lenda local, os templos terão sido construídos, de um dia para o outro, por uma mulher gigante enquanto embalava o seu filho. A avaliar pela dimensão das pedras usadas na construção, percebe-se o porquê desta lenda dos gigantes.

Estes templos, juntamente com outras estruturas semelhantes na ilha de Malta, estão inscritos na lista de Património Mundial da UNESCO desde 1980, e merecem claramente uma visita, mesmo que para leigos em arqueologia como nós.

Salinas de Gozo

Neste nosso roteiro pela ilha de Gozo, tínhamos mais locais que não queríamos deixar de fora e um deles eram as Salinas tradicionais. Mas antes, ainda fizemos uma paragem em Ramla Bay, a única praia de areia na ilha, onde aproveitamos para almoçar num dos bares da praia.

Apesar das salinas mais conhecidas serem em Marsalforn, uma pequena vila na costa norte da ilha, é um pouco mais à frente, na baía de Xwejni, que encontramos a maior extensão destas tão tradicionais e interessantes salinas que contam com mais de 350 anos

A produção de sal tem uma longa história em Gozo, quase tão longa como a história da própria ilha, desde a época dos romanos. É fascinante ver como, ao longo da costa, a rocha foi sendo escavada e trabalhada, transformando a paisagem em algo semelhante a um belo tabuleiro de xadrez.

Hoje em dia a produção de sal ainda é realizada de forma tradicional e artesanal, sendo este um trabalho transmitido através de gerações. Algumas famílias trabalham nas mesmas salinas há mais de 200 anos.

Baía de Dwejra

Situa-se na ponta mas ocidental da ilha e era o último destino deste nosso dia em Gozo. Este local ficou conhecido pela formação rochosa em arco a que deram o nome de “Janela Azul” e que se tornou a maior atracção turística da ilha, depois de ter sido palco da série “Guerra dos Tronos” na 1ª temporada. Infelizmente, em resultado da erosão natural, o arco colapsou no mar em Março de 2017.

No entanto, esta não seria a única maravilha da região. Para além da magnífica paisagem das falésias sobre o mar, as quais são possíveis de apreciar numa pequena viagem de barco, existe também um local a que chamam de “mar interior. Trata-se de uma lagoa ligada ao mar através de um pequeno túnel natural e de onde partem os barcos para os passeios na zona.

Na verdade, para além da vista e da paisagem, não muito diferente do resto da ilha, não achámos o local de grande interesse, a não ser, claro, se pretenderem fazer o passeio de barco, algo que nós não fizémos.

Comino e a Lagoa Azul

No dia seguinte o nosso destino era a pequena ilha de Comino, a mais pequena do arquipélago. Como íamos para Malta nesse dia, decidimos deixar o carro no porto de Mgarr (Gozo), seguir de barco até Comino, e depois do regresso apanhar o ferry para Malta.

Existem várias empresas a fazer o transporte de Gozo para Comino. Todas estas operam fora do terminal de ferrys. Por 10€ fazem a viagem de ida e volta e por mais 5€ dão uma volta extra para vermos as grutas. Vamos deixar para vos falar mais tarde sobre a praia em Comino, num outro post sobre as melhores praias de Malta, mas podemos desde já acrescentar que para além da praia e das cores da água do mar a ilha não tem outros motivos de interesse. No entanto, mesmo sem outros motivos, a visita vale sempre a pena.


Viagem realizada em Junho de 2019

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