Faial, Ilha de Navegadores

A ilha do Faial foi desde sempre associada às grandes rotas do marítimas do Oceano Atlântico. Ponto de passagem de e para navegadores, é nesta ilha que muitos encontram o seu porto de abrigo durante as tumultuosas viagens naquele que é o segundo maior Oceano do mundo.

Chegámos ao Faial ao inicio da tarde. Saiamos de São Jorge de barco, com uma pequena paragem no Pico, mas já avistando terra faialense ao largo. Chegar de barco fez-nos sentir, o que sente um navegador, ao entrar na mítica marina da Horta, como se fossemos “alguém do mar” quando, na verdade, nada sabemos sobre ele.

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Ficámos alojados no Porto Pim Bay, localizado junto à praia de Porto Pim, a 5 minutos do centro. O espaço é fantástico, muito bem arranjado e recomendamos claramente, seja para uma estadia de uma noite ou até mesmo de uma semana.

Mal chegamos a Horta, sentimos de imediato o ambiente internacional e multi-cultural que aqui se vive. É provavelmente a ilha que mais influência tem de outros povos, devido às constantes visitas que teve e ainda hoje tem, por parte de velejadores de todo o mundo.

Há cidades muito bonitas nos Açores, mas a Horta parece que tem tem um encanto diferente. O centro histórico, apesar de pequeno, abraça o mar fazendo com que qualquer visitante sinta o seu aconchego. A Baía da Horta, é a segunda baía portuguesa, depois de Setúbal, a integrar o Clube das Mais Belas Baías do Mundo, cujo galardão foi recebido no Congresso Mundial das Baías, realizado em 2012.

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A Marina da Horta, inaugurada em 1986, é das mais movimentada do mundo e uma referência no Oceano Atlântico É por isso bem conhecida a tradição dos iatistas e navegadores em deixarem, ao longo das paredes da marina, uma pintura alusiva à sua embarcação. Segundo reza a lenda, deixar aqui esta marca levará o barco em segurança até ao seu destino. Por isso, quem passa pela Marina da Horta depara-se com uma galeria de arte a céu aberto, o mundo inteiro representado no molhe deste pequeno porto açoriano, através das mais criativas e coloridas pinturas.

No tempo que ainda nos restava da tarde resolvemos ir dar a volta à ilha. Estaríamos no Faial apenas 1 dia (mais propriamente uma tarde e uma manhã) durante esta nossa viagem pelas ilhas do grupo central do arquipélago mais bonito do mundo! O Faial não é  uma ilha muito grande, mas não deixa, por isso, de ter locais fantásticos a visitar e que são, em algumas situações, únicos no nosso país e até na Europa.

Começámos, pelo miradouro da Ponta da Espalamaca. Daqui, além da magnífica vista sobre a cidade da Horta, e a praia de Almoxarife, é também possível alcançar as ilhas do Pico, São Jorge e Graciosa. Isto, claro, só se o tempo o permitir!

Seguimos depois para a Caldeira, a cratera do maior vulcão da ilha do Faial e Reserva Natural por albergar populações raras de flora endémica dos Açores. Mas, à medida que subíamos, o tempo ia ficando cada vez mais encoberto ao ponto de já não se ver praticamente nada, por isso, infelizmente, fomos obrigados a desistir. Ainda voltaríamos no dia seguinte de manhã, mas a sorte não esteve connosco. Felizmente, os nossos amigos do Let’s Run Away, que também estiveram recentemente no Faial, cederam-nos gentilmente as fotos abaixo para vos podermos mostrar aquilo que nós perdemos.

Seguimos por isso para um dos pontos incontornáveis para quem visita o Faial e que é, sem dúvida, o Vulcão dos Capelinhos. Depois de todo o verde que nos rodeia, entramos de repente num outro planeta, completamente negro e árido, sem qualquer tipo de vegetação

E é incrível ver este pedaço de terra acrescentada e roubada ao mar e no meio as ruínas do antigo farol. Neste local, totalmente enquadrado na paisagem, foi construído um centro de interpretativo que nos permite conhecer o drama das famílias afectadas pela erupção de 1958. Foi este que fomentou a enorme comunidade Açoreana que ainda hoje existe nos EUA.  Não houve perdas humanas a registar, mas foi após este acontecimento que, por uma questão humanitária, os EUA permitiram que milhares de sinistrados faialenses, e alguns outros das restantes ilhas, aproveitassem a quota especial de emigração concedida e procurassem melhorar as suas vidas emigrando para este país.

De regresso à Horta, não poderíamos terminar o dia, sem o famoso Gin do Peter’s.  Este bar mítico, e local de paragem obrigatória para todos os velejadores e navegadores que passam pela  Horta, foi já considerado pela Newsweek como um dos melhores do mundo. A nós parece-nos talvez um pouco de exagero, mas gostos não se discutem, não é mesmo!?

Mas voltando ao Peter’s! Conta a história que, o nome “Peter” teve a sua origem na tripulação do “HMS Lusitania II” da Royal Navy.  Reconhecendo semelhanças entre o jovem José Azevedo (fundador do bar) e seu filho Peter, o oficial-chefe do serviço de munições e manutenção daquele navio, começou a chamá-lo de Peter. E assim ficou, José Azevedo, conhecido o resto de sua vida.  No seu interior, além do bar, existe também um museu, o Museu de Scrimshaw, inaugurado em 1986, e que possui a maior e mais bela colecção particular de “Scrimshaw” (arte de ornamentar ossos de baleia) existente no mundo. Nós não visitámos, mas fica a dica, caso tenha interesse em conhecer!

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Tínhamos planeado jantar no restaurante Genuíno mas, para nosso azar, nesse dia estava encerrado para descanso do pessoal. Este restaurante fica de frente para a praia de Porto Pim, e além de ser famoso pelos mariscos e pelos peixes frescos, pertence um famoso navegador açoriano chamado Genuíno Madruga!  Durante anos a fio, Genuíno juntou dinheiro para comprar um veleiro e quando o conseguiu rumou ao sonho da sua vida fazendo duas voltas ao mundo, em modo “solitário”. A vida deste homem é inspiradora, e ele mesmo faz questão de partilhar a sua experiência com os seus clientes a quem carinhosamente chama de amigos. Tivemos imensa pena de não poder privar com esta personagem da cidade e cuja fama vai além fronteiras. O próprio restaurante é um verdadeiro museu das aventuras do Genuíno!

No dia seguinte, ainda tínhamos toda a manhã no Faial antes de seguirmos viagem para o Pico, por isso os planos eram subir ao Monte da Guia. Este não é mais que um antigo vulcão, desta vez, com origem no mar, e que se juntou à já existente ilha do Faial. É classificado como Área de Paisagem Protegida pela sua formação geológica, fauna e flora endémica. Miradouro de excelência, e para nós um dos melhores da ilha do Faial,  do adro da Ermida de Nossa Senhora da Guia, padroeira de pescadores e marinheiros, a magnifica panorâmica dupla. De um lado a Caldeira do Inferno ou “Caldeirinhas “, acolhedora maternidade de espécies protegidas da fauna marinha, e do outro, a recortada costa da Baía de Porto Pim e a cidade da Horta.

Faltávamos apenas conhecer um local que não queríamos deixar de ir, e que no dia anterior já não tinha sido possível. Não por ter um especial interesse, mas pelo seu nome ser o mesmo da cidade berço do Luís, Castelo Branco. Fomos então ao Morro de Castelo Branco, reserva natural, formado por vários estratos geológicos, resultado de uma erupção vulcânica costeira que ocorreu  há cerca de 30 mil anos e que pelo seu aspecto vertical faz lembrar um castelo e que pela cor “branca” das suas paredes recebeu o nome.

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O Faial é, como todas as outras ilhas deste paraíso que são os Açores, lindíssima mas para nós tem uma aura diferente, mais aventureira, mais aberta, provavelmente pelo contributo das pessoas que por lá passam todos os dias vindos dos quatro cantos do mundo.

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Deixamos a Horta e o Faial com saudade e a promessa de voltar. Sentimos que não ficámos tempo suficiente para viver mais esta “aura”, mas era hora de seguir para o Pico, onde iríamos ficar nos próximos 3 dias.

Este artigo faz parte de uma publicação colectiva de vários blogues do grupo TravelBloggersPT sobre o arquipélago dos Açores.

Não perca o que tem eles a dizer sobre as restantes ilhas:

As Flores pelo Gato Vadio, São Jorge pelo Um Dia Vamos e a Terceira pelo ADN Aventureiro. O Let´s Run Away leva-nos até Santa Maria e os Destinos Vividos ao Pico. Com o TravelB4Settle, o Route 92 e o Carimbo no Passaporte vamos até São Miguel, E chegamos, por fim, ao Corvo com o Luis Ferreira.

Nota: Viagem realizada em Junho 2018

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