Conhecendo Cuba, a terra da revolução…

Há muito que Cuba se encontrava no topo da nossa lista de países a visitar, mas vínhamos sempre adiando por um ou outro motivo. Desta vez, não podíamos adiar mais, queríamos muito ir enquanto o regime de Fidel Castro se mantivesse, porque Cuba é um regresso ao passado, porque queríamos conhecer de perto um país “comunista”, e porque Cuba é um país cheio de história, beleza e cultura.

Desta vez, e porque íamos fazer um circuito de carro pelo interior do país, decidimos fazer um post único em forma de roteiro, descrevendo todos os locais que visitámos, onde ficámos e como de costume a nossa opinião. Espero que gostem deste formato. Vamos lá então!

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Chegámos a Havana já ao final do dia vindos de Madrid com a Air Europa. Se a viagem correu como esperado (espero que a renovação da frota seja uma realidade ainda mais cedo do que o previsto), o transfer também não desiludiu!

Porque íamos chegar tarde, e organizar uma viagem a Cuba devido à falta de informação e recursos é uma tarefa bem complicada, tivemos de contratar transferes à chegada e à saída, mas também é possível apanhar um táxi no aeroporto (mas com fortes probabilidades de vos pedirem o triplo do preço que custaria numa situação normal). Demorámos cerca de 2h30 a chegar ao hotel. Em Cuba temos de ter a noção e compreensão para estes aspectos: o serviço não é bom e os Cubanos são, por regra, muito lentos a desempenhar qualquer tarefa.

Escolhemos o hotel Plaza para pernoitar, uma vez que seria apenas para descansar e enfrentar o novo dia com vontade de conhecer o que tínhamos previsto. É um hotel centenário extraordinariamente bem localizado mas que na nossa opinião não apresenta as condições para se poder aconselhar a alguém mais exigente. Esperávamos algo fraco, mas não tão a cair de velho… Mas deixemos os detalhes sobre Havana para um outro post totalmente dedicado a esta cidade tão emblemática.

Pela manhã, e já na posse do carro que alugámos, seguimos em direcção a Soroa pela estrada que liga Havana a Piñar del Rio, onde iriamos visitar o Orquideario.

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O Jardim Botânico Orquideario de Soroa está inserido na região da Serra do Rosário, um dos destinos de turismo de natureza mais procurados em Cuba e onde se localizam também os parques naturais de Soroa e Las Terrazas, considerados reserva natural da biosfera pela UNESCO.

O jardim foi construído em 1943 por Tomás Felipe Camacho, um advogado de origem espanhola, que se dedicou ao cultivo de flores, especialmente de orquídeas, as preferidas da sua esposa e filha entretanto falecidas. O lugar rapidamente se tornou famoso pelas suas variedades de Orquídeas endémicas assim como dos exemplares exóticos trazidos de todo o mundo. Hoje em dia, o Orquideario de Soroa é Património Nacional possui cerca de  20 000 exemplares de 700 espécies diferentes de Orquídeas.

Aqui foi possível observar vários tipos de Orquídeas que nunca tínhamos visto antes e admirar a  variedade de formas e cores que podem ter estas estranhas mas lindíssimas flores. Visitámos todo o jardim e embora não seja um local que obrigue a uma visita propositada, sendo de passagem, vale a pena visitar.

Seguimos então a nossa viagem em direcção a Piñar del Rio. Na chegada, e enquanto estávamos parados num semáforo, um cubano meteu conversa connosco com o intuito, com já vinha sendo hábito, de tentar “sacar” algum dinheiro. Com um pouco de conversa deu a entender que não era isso que pretendia, e que apenas queria ajudar e como não aceitámos nada do que propôs, acabou por desistir. Percebemos, entretanto, que no mesmo semáforo fazia isso a todos os turistas que paravam! Em Cuba as matriculas dos carros de aluguer, ou destinados a turismo, começam por “T”, logo eles identificam facilmente os carros dos turistas aproximando-se para tentarem algum esquema e assim obterem dinheiro.

Piñar del Rio é uma pequena cidade com as suas casinhas coloridas e que vive essencialmente da economia gerada pelas plantações e fábricas de tabaco situadas nos seus arredores, e que são também o motivo de interesse principal do turismo na região.

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Aproveitámos para almoçar por aqui mesmo, no Paladar El Mézon, que acabou por revelar uma agradável surpresa e muito barato. Em Cuba, os Restaurantes que tem esta designação são pertença do Estado, sendo que os particulares, que normalmente são casas dos próprios cubanos adaptadas para o efeito, tem a designação de Paladares.Se pretende visitar Cuba com intenção de descobrir maravilhas gastronómicas, pode esquecer! A comida não é abundante e nem diversificada e, pensamos nós, é provável que tal se deva ao racionamento dos produtos alimentares desde há mais de 50 anos neste país.

Após o almoço, dirigímo-nos à Fábrica de Tabacos Francisco Donatien  mas infelizmente estava encerrada (tivemos de verificar nós mesmo, pois até lá chegarmos fomos abordados várias vezes para nos levarem para outros locais alternativos), como tal não tivemos oportunidade de testemunhar a produção dos charutos na fábrica.

Se tentar ir a algum local e lhe disserem que está fechado e lhe propõem servir de “guia” a outro local idêntico, não desista! Vá verificar por si mesmo, pois eles pretendem desviar a sua atenção e levá-lo para outro local para de lá ganharem uma comissão, e com alguma sorte ainda uma gorjeta sua.

Seguimos então para Viñales e ao longo da estrada passámos por várias plantações. Resolvemos parar numa delas, pois sabíamos que em algumas se podia observar os métodos tradicionais de enrolar os charutos. Não queríamos ir com os “guias” que fomos encontrando de cada vez que parávamos para perguntar alguma informação, por isso tentámos a nossa sorte e conseguimos encontrar o que queríamos: ver como são feitos os famosíssimos charutos cubanos.

Aproveitámos para comprar aí os charutos que, apesar se não terem marca, posso assegurar que têm todos os aromas e sabores dos “puros”, mas a 1/5 do preço que custam nas lojas do Estado. Em conversa, ficámos a saber que os “campesinos” cedem 90% da produção ao Estado restando os outros 10% para consumo próprio que claro aproveitam para vender aos turistas.

Na altura em que visitámos Cuba já tinha passado a época da apanha da folha, que se realiza normalmente durante o mês de Abril. Em Maio, quando fomos, as plantações de tabaco estavam agora transformados em plantações de milho. Lá mais para Novembro, voltarão a ser de tabaco! Quando acaba a apanha, as folhas são colocadas para secar nos barracões junto á plantação e foi mesmo isso o que encontrámos.

Quando chegamos a esta região, vamos tendo noção da beleza do vale de Viñales. As sua enormes formações rochosas são na sua maioria ocas no seu interior devido á erosão das rochas, dando lugar a belas perfurações e cavernas, sendo a mais conhecida e visitada, a “Cueva del Indio”. Devido à sua grande beleza natural, em 1999, o Vale de Viñales foi declarado Património Mundial da Humanidade pela UNESCO.

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A cerca de 4 kms de Viñales encontrámos o “Mural de la Prehistoria”, um mural encomendado por Fidel Castro, para representar a vida dos primeiros habitantes do arquipélago cubano. A sua pintura iniciou-se em 1960 e demorou 4 anos a ficar concluída. Sinceramente, não achamos que seja nada de especial que justifique o preço que cobram para a entrada no recinto, além de que à distância também é possível apreciar a “obra de arte”.

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Ficámos alojados no Rancho San Vicente. Fica um pouco mais afastado da vila mas é um hotel bastante razoável, com um charme e características especiais. À noite fomos dar um passeio na vila de Vinãles. A localidade é muito agradável e com bastante animação e  vida nocturna, em muito alimentada pelos inúmeros turistas que visitam a região, principalmente jovens mochileiros e apreciadores de turismo de natureza, ao qual esta região é bastante propícia e recomendada.

Pela manhã lá seguimos para Varadero, passando pela estrada mais perto do litoral de forma a podermos ir conhecer as praias de Cayo Levisa mas o mau tempo não nos permitiu. Chegámos então a Varadero que, não nos deixando apaixonados, permitiu-nos pernoitar e continuar para Cienfuegos e evitar, desta forma, de fazer mais de 600 Km pelas estradas de Cuba.

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Pelo caminho descobrimos uma Cuba rural, afável, muito trabalhadora… Uma Cuba diferente onde não nos pedem dinheiro a todo o instante, onde o que nos pedem é boleia para poderem ir trabalhar e fazer a sua vida!

Chegados a Varadero, fomos muito bem recebidos no Hotel Melia Marina onde aproveitámos para relaxar e descansar das viagens anteriores. Varadero, à excepção das praias e dos resorts, não tem nenhum motivo de interesse. A Ana ficou extremamente desiludida com Varadero. Sendo um destino tão cobiçado e badalado, estava à espera de encontrar uma praia ao estilo das Caraíbas com areia branca e mar azul turquesa. Mas ao invés disso, e tendo em conta que nesse dia o tempo não estava muito agradável, lá estava o belo mar, mas a areia cinza em nada se parecia com os “postais” que vemos por aí a publicitar o destino.

Pela manhã partimos em direcção a Cienfuegos e acreditem, julgamos estar numa outra Cuba. Logo á saída de Varadero entrámos por dentro da povoação de Cardenas e aí vimos Cuba autêntica, uma cidade confusa, comercial, povoada, dinâmica e com um trânsito (essencialmente de carroças e bicicletas) caótico! Ao longo do caminho, os campos encontram-se cultivados e provavelmente será daqui que sairá a maioria dos produtos frutícolas e hortícolas do país. Um pouco mais para sul, plantações de cana, a perder de vista! Nesta região, muito rural, os cubanos cultivam, produzem, trabalham no duro…dá gosto de ver!

Chegámos a Cienfuegos, a cidade por muitos chamada “La perla del Sur”. Esta cidade, foi fundada em 1819 por colonos franceses, ainda durante o período de domínio espanhol, e a sua arquitectura é bem diferente das restantes cidades cubanas, pois tem fortes influências francesas. Para saber tudo sobre Cienfuegos, veja este post.

Após conhecer esta cidade, seguimos para Trinidad.

Pelo caminho, e seguindo sempre junto à costa passámos por algumas praias muito bonitas e frequentadas essencialmente por locais. Chegando a Trinidad percebemos a razão pela qual esta é uma das cidades mais visitadas em Cuba. Trinidad é conhecida como um tesouro nacional, por isso dedicámos-lhe um post completo aqui.

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No dia seguinte, pela manhã, fomos conhecer Sancti Spiritus, capital da provincia com o mesmo nome.

Chegados a Sancti Spiritus encontrámos uma cidade muito cultural. Fundada em 1514, é considerada a capital cultural de Cuba, com inúmeros museus dos quais se destacam o Museu de arte colonial, o Museu provincial de História e o  Museu de História Natural, assim como várias estátuas de escritores e outras personalidades, que nos transportam para a cultura cubana.

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A cidade de Santi Spiritus, que completou recentemente 500 anos de história, possui, á semelhança de Trinidad, um dos mais belos conjuntos de arquitectura colonial do país, de onde se destacam 2 monumentos nacionais, a Igreja paroquial Mayor e a ponte sobre o rio Yayabo. O seu centro histórico está extremamente bem preservado a apesar de ser uma cidade bem maior que a sua congénere Trinidad, é muito bonita e agradável e vale a pena visitar, mesmo que seja de passagem.

Seguindo caminho em direcção a Havana passámos ainda por Santa Clara, conhecida com a cidade de Che. A história de Santa Clara, de Che e da revolução cubana estarão para sempre interligadas. Foi após a tomada desta cidade, que Fulgêncio Batista fugiria do país e Fidel Castro e as suas tropas, comandadas por Ernesto Che Guevara, iniciariam o  percurso triunfante até Havana onde conquistariam a liberdade em finais de 1958, iniciando-se assim o regime politico em vigor até aos dias de hoje.
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Aqui é obrigatória a visita ao túmulo de Che Guevara, onde repousam os seus restos mortais, e ao memorial-museu, construído no final dos anos 80, em homenagem ao médico guerrilheiro, situado na Plaza de la Revolución. O Che é como que uma inspiração e um exemplo para este povo. Foi ele o grande lider que levou à vitória e à libertação do povo cubano, do regime de Batista.
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Na nossa opinião, e obviamente sujeita a críticas e reparos, esta é a representação de um país total e puramente comunista e sinceramente o cenário não é nada próspero. O estado garante educação, saúde, trabalho e alimentação. Mas não garante crescimento económico nem prosperidade, nem diversidade, por isso falta tudo por aqui e está tudo por fazer desde  que o país parou há quase 60 anos.

Nas cidades cubanas, por mais actividade que haja, sente-se sempre falta de comércio livre, da actividade comercial activa como estamos habituados. À luz do racionamento dos produtos, os Cubanos não têm grandes possibilidades de ter outros bens, nem de serem grande empresários, nem o governo permite tal situação. País que não é livre, mesmo que seja essa a propaganda espalhada pelo país inteiro, nunca será evoluído, próspero, abundante e diversificado. Não há escolha, logo não pode haver riqueza e diversidade.

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Acho que isto diz tudo. Mas este é um blogue de viagens, e não de política! Sentimos que o país necessita de algo mais, que tem tanto para dar, mas o povo não estará preparado e nem ansioso por isso…

Chegados a Havana ficámos novamente no Hotel Plaza. Desta vez tínhamos à nossa espera um quarto muito mais agradável que na primeira noite, sendo que, para todos os efeitos, continua a ser um hotel desgastado pelo tempo e com pouca qualidade em geral, mas que para qualquer um menos exigente serve perfeitamente.

No final desta aventura, tivemos uma bela surpresa: no bar do hotel estava um cubano a tocar piano. Só temos para vos dizer que é tão bom ouvir “Coimbra é uma Lição” ao piano a mais de 6000 Km de casa…

De manhã apanharíamos o voo para Cayo Largo, mas isso são histórias para outro post

Nota: Viagem realizada em Maio de 2016

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