Safari no Quénia, no trilho dos big five…

Dizem que África, com a imensidão das suas paisagens e a riqueza de vida selvagem, exerce sempre um fascínio muito especial em quem a visita.

E o Quénia é, sem dúvida nenhuma, um dos destinos mais procurados em África, com os seus parques nacionais, reservas e várias zonas de paisagem protegidas. Por isso quando pensamos num país como o Quénia, a primeira coisa que nos vem à cabeça são os safaris, a extensa savana e os animais selvagens. E foi precisamente isso que decidimos fazer, percorrendo, ao longo de uma semana, os melhores parques para a observação de vida selvagem.

Ao contrário do que é costume nas nossas viagens, aqui participámos numa viagem em grupo com um circuito não organizado por nós, mas o destino praticamente assim o obrigava. Não que fosse impossível viajar de outra forma dentro do Quénia que é até bastante organizado, quando comparado com outros países em África, e com estradas razoáveis, mas porque dentro dos parques, a probabilidade de encontrar alguns animais, principalmente os felinos, só é possível quando acompanhados por quem sabe e conhece.

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A nossa incursão pelo Quénia teve início na sua capital, Nairobi, cujos primeiros dias nos deram logo uma noção da realidade que é este país. Mas o que ansiosamente mais esperávamos era começar o nosso safari.

O nosso primeiro parque foi o Masai Mara, que não sendo a maior, é definitivamente a mais conhecida reserva natural no Quénia. Situado no enorme Rift Valley, a cerca de 220 Km a sudoeste de Nairobi, o parque faz fronteira com a Tanzânia, numa extensão do Parque Nacional do Serengeti, formando assim um dos ecossistemas mais ricos e diversos do mundo e por isso um dos melhores lugares para se fazer um safari. O parque deve o seu nome ao povo Masai, o povo seminómada que habita esta região e ao rio Mara que corre ao longo do Quénia e da Tanzânia atravessando as duas reservas até ao lago Vitória.

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De manhã bem cedo saímos de Nairobi para enfrentar os mais de 200kms que ainda tínhamos pela frente até à entrada do parque o que significava mais de 3 horas de caminho.

Ao longo do percurso fomos passando por alguns pequenos vilarejos nos arredores de Nairobi até chegarmos ao ponto de entrada com vista ao Great Rift Valley, um enorme vale provocado por um conjunto de falhas geológicas que vem desde o Egipto no norte de África até Moçambique no sul.

Daqui podemos admirar a extensão e beleza das paisagens circundantes que dariam acesso ao nosso destino. A estrada até aqui não foi má, apesar de ter muito trânsito, mas uns quilómetros mais à frente esperava-nos o pesadelo de cerca de 80 km de estrada de terra batida que demorou uma eternidade até à entrada da Reserva.

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Finalmente chegados, fomos directos para o Lodge onde ficaríamos alojados e onde aproveitámos para almoçar e relaxar um pouco da viagem.

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Depois do almoço, cerca das 16h partimos para o nosso primeiro safari. Ainda mal tínhamos saído começamos logo a ver alguns animais, principalmente antílopes e uns quantos de gnus. Um pouco mais à frente, búfalos e zebras. Um avistamento de uns quantos javalis, uns abutres e um lindo casal de grous coroados.

Porque ainda não tínhamos entrado profundamente no parque, o nosso primeiro pensamento foi que afinal a paisagem não é tão plana como tínhamos no nosso imaginário e a vegetação verde abunda por estas paragens. A nós só nos lembrava o Alentejo, em Portugal, mas com animais selvagens…

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Mas é medida que avançávamos mais no parque, a paisagem ia-se modificando e tornando-se cada vez mais, a savana esperada com as suas cores e tons dourados. E porque fomos uns sortudos, não terminámos este dia sem avistar um casal de jovens leões que se passeavam por perto. Ainda só hoje começamos e já vimos dois dos big five: o leão e o búfalo. Isto começa bem!

No dia seguinte, iniciámos o dia com uma visita a uma aldeia Masai.

O povo Masai habita toda esta região desde o norte da Tanzânia ao sul do Quénia e, apesar de constantemente expostos ao crescente turismo e à força da globalização, preservam ainda muitas das suas tradições culturais e são facilmente identificados pelas suas vestes vermelhas e pelos seus adornos coloridos.

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Preparados desde crianças para serem grandes guerreiros, aos homens compete a protecção da sua família, e o pastoreio do gado, essencialmente bovino e caprino. Aqui, a riqueza de um homem mede-se pelo número de cabeças de gado que possui e pelo número de filhos que tem. Como são polígamos, podem ter mais que uma mulher, mas, desde que a possam sustentar. Cada mulher tem a responsabilidade de construir a sua própria casa e cuidar dos filhos.

As suas casas são bastante rudimentares, construídas com os materiais que a natureza providencia, tais como paus, palhas, terra e estrume dos animais. Pelo que pudemos ver parecem até bastante sólidas, ou pelo menos o suficiente para o clima da região. Como são um povo seminómada, quando os recursos da zona circundante escasseiam e as casas começam a deteriorar-se, mudam-se e constroem uma nova aldeia noutro lugar.

Os Masai são também famosos pela sua dança dos saltos (Adumu), realizada pelos homens da aldeia, que saltam no ar para mostrar a sua força e resistência como guerreiros tribais. Os seus saltos altos, são acompanhados pelo canto de outros elementos da tribo. E foi assim que o fizeram durante a nossa visita, ou não fosse isto também um pouco para turista ver…

A maior parte dos habitantes da aldeia falam apenas o ɔl Maa ou o Suaíli. No entanto alguns dos homens já falam também inglês pelo que foi possível estarmos um pouco à conversa e melhor compreender estas suas tradições e costumes. As mulheres sempre mais recatadas mantiveram-se à distância somente a observar-nos.

A visita foi muito interessante do ponto de vista cultural, pois permitiu-nos conhecer de perto o modo de vida deste povo, apesar de sabermos à partida que o turismo em nada contribui para a preservação destas culturas. Mas, em virtude das reservas serem áreas protegidas e não poderem mais ser utilizadas pelo povo para a recolha da água e pastoreio do gado, as visitas dos turistas e a venda do artesanato são agora uma pequena fonte de rendimento e um modo de subsistência para esta gente.

Após a visita á aldeia seguimos para o interior do parque para mais um safari. Desta vez, fomos bem mais longe, até à fronteira com a Tanzânia e ao rio Mara.

Estávamos em meados de Junho e era já possível observar um dos maiores fenómenos do mundo animal, a grande migração.

Todos os anos por esta altura, milhares de gnus, zebras e várias espécies de antílopes, atravessam o rio e a fronteira vindos do Serengeti para o Masai Mara à procura de água e alimento, fugindo das secas paisagens da Tanzânia para os verdejantes pastos do Quénia originados pelas chuvas da época. Com eles, seguem também os seus predadores naturais, que neste período aproveitam o farto alimento que podem encontrar.

O momento mais dramático desta viagem é a travessia do Rio Mara, onde milhares de animais perdem a vida quando enfrentam as fortes correntes devido à subida das águas e um rio repleto de crocodilos.

Poder observar este maravilhoso evento da natureza foi mais um dos pontos altos do safari deste dia. Mas para quê tanto escrever se as imagens falam por nós…

No dia seguinte, deixámos o Masai Mara e seguimos em direcção ao Lago Nakuro, outra das Reservas naturais do Quénia.

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Com uma paisagem completamente diferente do que já tínhamos visto no Masai Mara, o Lago Nakuro situa-se a cerca de 160 km a noroeste de Nairobi e faz parte do Sistema de Lagos do Grande Vale do Rift no Quénia, elevado a património mundial pela UNESCO em 2011.

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A paisagem é realmente belíssima, com um lago imenso cheio de flamingos e pelicanos. Em determinadas épocas do ano, há tantos flamingos que o lago se torna literalmente cor-de-rosa quando visto ao longe. Infelizmente não conseguimos observar esse maravilhoso espectáculo, pois devido às chuvas dos últimos dias, as águas estavam demasiado altas levando os flamingos para outras paragens.

O parque possui uma grande diversidade de animais, principalmente babuínos, rinocerontes, girafas e búfalos, mas são os flamingos e os pelicanos brancos, o seu grande atractivo. Este é um dos poucos parques nacionais vedados, o que permite aos vigilantes uma melhor protecção dos caçadores furtivos, proporcionando assim um refúgio seguro a espécies ameaçadas como os rinocerontes preto e branco e as gigantes girafas.

Por isso no safari deste dia, foram estes os animais mais avistados, sendo a vez do rinoceronte se juntar à nossa lista dos “big five”. Faltavam ainda, as grandes manadas de elefantes e o leopardo, o mais esquivo de todos eles.

Do Lodge onde ficámos alojados, e porque ficava num ponto alto, dava para ter uma visão completa da extensão e imensidão do lago. Foi de facto um privilégio poder acordar de manhã com uma vista assim e abrir ao janela ter de frente alguns destes animais que por ali deambulavam.

Na manhã seguinte, tínhamos mais um longo caminho a percorrer pelas estradas do Quénia. O nosso próximo destino seria o Parque Nacional de Amboseli, mas não sem antes passarmos pelo Lago Navaisha a tempo de mais um safari, desta vez a bordo de um pequeno barco, já que esta seria a melhor forma de observar a vida selvagem neste local.

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O Lago Naivasha, considerado um dos maiores do Quénia, é um lago de água doce e lar de uma enorme variedade de vida animal, incluindo uma população considerável de hipopótamos, e centenas de espécies de aves e peixes.

Para os amantes da observação de aves em habitat natural este parque será provavelmente o paraíso, tendo em conta a quantidade enorme de aves que por aqui encontrámos . Mas a maior adrenalina foi mesmo quando o barco chegou bem perto de um grupo de hipopótamos que se banhava nas águas do lago.

Mas nada melhor que as fotos para vos podermos mostrar a misteriosa beleza deste lago que nos deixou completamente rendidos.

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Saindo do Lago Navaisha e com uma pequena paragem em Nairobi para o almoço, seguimos em direcção ao Amboseli National Park.

Este foi provavelmente o percurso mais cansativo de toda a viagem, pois apesar da estrada não ser má, tem imenso trânsito, sendo que grande parte são camiões o que dificulta muito a circulação. Esta é a estrada principal  que liga o porto de Mombaça ao interior do Quénia, ao Sudão e ao Uganda pelo que todas as mercadorias que abastecem estes países circulam por aqui. Passámos por inúmeros vilarejos com pontos para os camionistas pernoitarem ou descansarem ao longo de toda esta via, e em cada um deles um amontoado de gente, e de vendedores, e de carros e motas, enfim, uma confusão que atrapalha ainda mais o trânsito.

Por tudo isso, chegamos ao Amboseli já ao cair da noite e não pudemos ter um primeiro impacto, mas o amanhecer trouxe todo o seu esplendor.

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Com as suas planícies a perder de vista, a Reserva Nacional de Amboseli é um dos melhores locais em África para observarmos as grandes manadas de elefantes, pois só aqui tem espaço suficiente para as suas longas e lentas caminhadas.

O parque, declarado Reserva da Biosfera pela UNESCO em 1991, combina num ecossistema único, uma fantástica variedade de vida selvagem e um enorme contraste entre as zonas áridas do leito do lago seco e o oásis dos seus pântanos. Elefantes, leões, chitas, hienas, girafas e antílopes de várias espécies e mais de 600 espécies de aves formam a vida selvagem desta reserva.

Com o Kilimanjaro como pano de fundo, o Amboseli é um lugar especial e de uma beleza singular. Como dizem os quenianos, “Deus deu a montanha à Tanzânia, mas deu ao Quénia a planície para a contemplar”.

Este foi um dos mais belos locais onde ficámos durante a nossa estadia do Quénia, mas como tudo o que é bom acaba, terminámos aqui esta fantástica experiência.

A nossa busca pelos “big five” ficou também fechada quando avistámos aqui as manadas de elefantes. Ao longo da semana, não tivemos a felicidade de encontrar nenhum leopardo, que por norma se esconde nas folhagens das árvores sendo muito difícil de encontrar. África, terás de esperar por nós para outro safari…

No dia seguinte pela manhã, regressámos a Nairobi para embarcar no avião que nos levaria até Mombaça.

Nota: Viagem realizada em Junho de 2014

 

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